Deitamos flores pelo lado de dentro

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O tempo e o espaço foram ao máximo. Desse máximo retirámos o limite do corpo. Um sulco na pele vindo da memória dos dias infinitos de iguais repetições. Um movimento apreendido, passo por passo, camada por camada, meticulosamente em avanços estáticos face ao invisível. Como uma carpideira que chora a dor alheia, aqui chora-se o corpo que procura nas lembranças uma necessidade no intangível da sua própria dor. E do que lhe restou por fim celebra agora num rito. A celebração é uma necessidade que se demora e se devora, no corpo que se regenera.
Relembro: não salvei o corpo, modifiquei-lhe a necessidade, até que a necessidade fosse voltar a si.
Dar-te-ei este corpo e nada mais do que isso. 

‘Deitamos flores pelo lado de dentro’ é uma celebração.
É uma necessidade do corpo em voltar a sê-lo, a quem durante muito tempo só competia trabalhar arduamente, quase sem sentir. Esse mesmo corpo ergue-se agora na ânsia demorada de retornar ao movimento, à dança, ao próprio ato de voltar. Apresentamos uma performance que mergulha nas lembranças dos interstícios profundos do corpo e na superfície secreta das imagens, fixas por observador externo, um primeiro espectador íntimo.
Pretende-se que o público entre nesse túnel esconso repleto de imagens, movimentos, sons e texturas, que se atravessam num espaço vazio onde tudo se perdeu, para tudo se voltar a ganhar. Onde o passado e o presente confluem num único corpo imemorial, cuja exaltação transmutou o mito contado em imagens, como nas gravuras rupestres, ou aqui, uma carpideira de si, viva e presente que faz uma celebração ritual dual.

Observações
O título é retirado da obra de Raul Brandão, Húmus, também apropriado por Herberto Hélder no seu poema montagem homónimo.

Na composição fotográfica há a considerar a referência ao espetáculo ‘Num Vale do Aqui’ de Daniel Matos que remonta a 2019, ao qual a intérprete Mélanie Ferreira regressou após lesão em 2018. 

Performance / Fotografia

Direcção artística e Produção: André Luís Alves e Mélanie Ferreira

Performance e Interpretação – Mélanie Ferreira

Fotografia – André Luís Alves

Cenografia – André Luís Alves e Mélanie Ferreira

Aconselhamento artístico – Adriana Xavier e Daniel Matos

Apoio vocal Rita Carolina Silva

Fotografia de cena, vídeo e cartaz Bruno Simão

Figurino – Ana Direito e Luís Oliveira

Apoio a Residências Artísticas – Art Danse Studio, C.e.m. (Centro em movimento)

Apoio – GoodPlastic, Desporsano Clínica do Desporto

Acolhimento – Largo Residências no âmbito do Festival Bairro em Festa

Agradecimentos – Ana Gil, Annick Baechler, António Quadros Ferros, Cristina Vilhena, Fátima Ferreira, Joana Flor Duarte, José Manuel Lourenço, Julia Friedsdorf, Marta Silva, Raquel Fernandes, Sofia Neuparth