Memórias de Infância
“Uma das minhas recordações de infância…
Durante as férias da escola o meu tempo era ocupado acompanhando o meu pai ‘Marques’ no seu trabalho de camionista, fazendo transporte de mercadorias. O que para mim eram excursões para ele era trabalho.
Registrado na minha memória estão aqueles despertares às quatro da manhã cedo para começar o dia! O camião estava normalmente estacionado ao lado da escola primária perto de casa. O que mais gostava era que o camião tinha uma cabine onde, felizmente, podia voltar a dormir. O ritual era sempre o mesmo, o motor era ligado para aquecer durante cerca de 10 minutos, o tacógrafo é reposicionado, os pneus são verificados e só então começava a marcha… Ao som da rádio renascença, logo adormecia, e muitas vezes já acordava ao chegar ao destino. A marca era DAF, era um camião antigo, andava devagar e estava quase sempre bem carregado. Em uma dessas viagens, lembro-me de um episódio numa ligeira subida, provavelmente cansado de tantos quilômetros, o camião parou de funcionar em plena faixa de rodagem na nacional n.º 1. Foi assim que a minha sesta acabou … ” Bruno Lavos
Esta memória da infância serve de inspiração para uma performance dentro do contexto do Bairro em Festa. Desenvolvendo um trabalho no campo das Artes contemporâneas denominado ‘Walk as Art’ e absorvendo influencias do movimento ‘Situacionista’, decidi juntar duas paixões e abordar o tema das crianças na cidade e o espaço público.
A paixão de criar os meus ‘brinquedos’ e a paixão do caminhar juntam-se para uma performance que quer passar uma mensagem muito importante: a cidade também é das crianças!
A performance terá como base um passeio, revivendo uma brincadeira de criança: puxar à mão um carrinho de madeira com um cordel.
A performance terá lugar nas ruas do Bairro do Intendente, Anjos e Arroios. Será aberta à cooperação com outros artistas e será realizado num percurso aleatório confinado aos passeios sem prejudicar a circulação dos peões.
Criança como cidadã
Concluindo esta ação performativa visa o direito à cidade das crianças, agravado pelo estado de emergência que passamos:
“Todo cidadão tem direito a participar da criação e definição de políticas públicas que afetam suas vidas, e as crianças não são exceção. Alguns documentos e articulações, como a Convenção dos Direitos das Crianças das Nações Unidas, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Marco Legal pela Primeira Infância, defendem que as crianças participem das decisões de uma cidade ativamente. Nesse sentido, é importante ampliar o respeito ao que as crianças dizem, compreendendo que têm muito a colaborar. Ainda que o façam de forma diferente que os adultos.”
Exposição – Instalação
Autor: Bruno Lavos Marques
Fotografia: Inês Henriques
Entidade programadora: Zona Franca nos Anjos